Antes de nascer o mundo

Finalizei há poucos dias a leitura do livro “Antes de nascer o mundo”, obra do moçambicano Mia Couto, um criativo e reconhecido escritor, com vários prêmios internacionais.
No programa “Conversas com Pedro Bial” assisti uma entrevista maravilhosa com ele. Perguntado se ele planeja, OU faz um pré roteiro quanto vai escrever um livro, respondeu que não.

– Aí não teria graça, eu já conheceria a história de antemão. Eu tenho uma ideia e começo a escrever. Os personagens vão surgindo, as tramas se formando. E tudo é surpresa. Isso que é a parte boa de escrever. Começar andar, sem saber o destino. E seguir colhendo o que vier pelo caminho.

Claro que não foram bem essas palavras, mas foi essa a forma que o Mia Couto descreveu de como produz um romance. Achei muito interessante. É um incentivo, um caminho para quem gosta de escrever. Em vez de ficar imaginando, estruturando, mudando de ideia todos os dias, adiando, procrastinando, a forma é começar a escrever e seguir em frente. Aí o texto vem.

Em “Antes de nascer o mundo”, nos outros livros também, mas neste em especial, o moçambicano usa a linguagem, os ditados, as crenças do povo africano para enriquecer a obra.

“Não é segurando as asas que se ajuda um pássaro a voar!”
É uma frase linda demais.
“Uma boa história é a arma mais poderosa!”
Ou então “-Não viver é a coisa que mais cansa!”
Alguém duvida?
“Espreite as cicatrizes para conhecer um homem!”
Autêntica!
“O poeta se engrandece na ausência!”
Acho que é bem assim.
“Esse mundo precisa de ódio!”
Não que ele seja a favor, mas ele constata isso. E é fácil de comprovar.
“Quem nunca foi criança não precisa de tempo para envelhecer!”
Quanta infância desperdiçada.
A que mais me tocou, me fez pensar:
“Pois eu digo e repito. De que vale ter crença em Deus se perdemos a fé nos homens?”

É a vida sem fundamento. Sem o próximo. Sem sentido.


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