Com o céu encoberto por várias semanas, aqui no nosso inverno, deixei de prestar atenção e admirar a lua.
Ela, romântica e insistente, certamente continuou sua trajetória, sempre paquerando a Terra, não interrompendo o ciclo tão umbilicalmente ligado.
Pois bem. Dia desses ao anoitecer, mirei o firmamento e lá estava me espiando, o nosso único estimado, algumas vezes visitado, satélite, numa posição mais austral, ao sul, do que da vez anterior em que a observei.
Aqui em Porto Alegre, na latitude 30° sul, no inverno, a lua se põe no quadrante noroeste. Por sua vez na primavera e mais acentuadamente no verão, a posição é no quadrante sudoeste. Achei que ela estava fora do seu eixo. Deslocada exageradamente.
Nesse dia em que eu observei, vi uma lua crescente em forma de foice, ou uma ferradura incandescente, porém com a imagem borrada, translúcida através da fumaça das queimadas que vem da Amazônia. Essa camada de fuligem espessa turva o firmamento. Em vez de rios de umidade, temos rios de resíduos com partículas sólidas e fumaça. Uma tristeza e uma ameaça a saúde das pessoas e da vida no planeta como um todo.
Eu bem sei, claro, que a lua, pela qual nós enamoramos, continua altaneira no céu como sempre. Ela não desistiu de nós e cumpre religiosa e pontualmente, o ciclo de 28 em 28 dias. Sempre vem dar show fazendo sua dança cósmica.
Queiramos ou não, ela nos influencia física e psicologicamente. O que seria de nós sem a lua prateada para apreciar? João Pernambuco não teria composto a bela canção Luar do Sertão, música que a gente associa a Catulo da Paixão Cearense, que teria dito: “o Luar do sertão era uma melodia nortista, mais ou menos pertencente ao domínio folclórico”.
Quantas juras de amor de apaixonados namorados deixariam de acontecer?
Mas que a lua parece fora do eixo, perturbada talvez, ela parece!
Será que ela precisa fazer análise?
Ou, por outro ângulo: Será que eu me desorientei?
Que tempos!