Eu fui proprietário de um fiat 147, azul noche, ano 1977. Comprei no Rio de Janeiro em 1979. Vim com ele rodando. Corajoso que eu era. No segundo dia ele parou. Consegui chamar a assistência, na oficina veio o veredito: – Correia dentada.
Eu nem sabia o que era a tal correia. Sua função, segundo me explicaram, é acionar o comando de válvulas. – Ah é! E mais. Até o ano de fabricação 1977, era o caso, quando arrebenta a correia, podem entortar válvulas. O Cabeçote é alto e, quando as válvulas param, as cabeças batem. Foi que aconteceu. Quatro válvulas danificadas.
Mandei arrumar. Dias depois capotei. Umas 3 ou 4 voltas. Não me machuquei. Ainda bem. A lataria do coitado… Mesmo assim não desisti. O carro, claro que sim, era econômico, que nem eu!
Me adaptei tanto ao veículo, até parecia sob medida prá mim. Eu o vestia, ou melhor: o calçava. Simples. Pequeno por fora, de coração grande por dentro. As vezes reclamava, mas sempre atendia quando solicitado. Ranzinza. Que nem eu!
Pouca tecnologia embarcada, nada de frescura, rústico, um cabrito no calçamento. Roncava bonito quando eu descia o pé pesado. Queimava um pouco de óleo. De vez em quando esquentava o radiador. Completava com líquido, parava um pouco, refletia e seguia em frente sem problemas. Que nem eu!
Resolvi trocar as marchas sem usar embreagem, até que um dia fiquei sem a terceira. Prá que terceira? Passava da segunda direto à quarta e vamo embora. Uns probleminhas de fechadura, máquina de vidro. No início começaram “uns grilos”, coisinhas batendo. Mas foi passando, a barulheira diminuiu. Tudo que estava solto caiu. O que era básico ficou só na carcaça. Que nem eu!
Tá certo, algumas vezes, quando precisei de mais potência na hora de subir a lomba, faltou aquela forcinha a mais na chegada. Mas só isso. Quem nunca falhou? Nada sério, foi uma vez só.
Sempre que os amigos me sacaneavam eu tinha a frase pronta:
– Nunca me deixou no meio do caminho!
Eu já deixei.
Porto Alegre/RS, 02 de maio de 2020