Lembro muito bem, no final da década de 70, quando eu passei a viver no ambiente urbano, ir ao cinema e assistir televisão. Nos filmes e novelas de época, aparecia a família à mesa, o “coronel”, hoje seria “o dono da lancha”, na cabeceira, tendo ao lado uma escarradeira.
Este objeto foi no tempo do “Vosmicê”, um utensílio que acompanhava os jantares pomposos. Estava ali e mais que natural, decerto achavam necessário.
Pois então. Quando eu comecei a me “socializar”, passei a frequentar à sala de jantar de alguns amigos na cidade, a escarradeira fora substituída pelo cigarro e o cinzeiro. Sim senhores, todos dessa época lembram, que era normal fumar-se à mesa. Na hora do cafezinho, então, era “batata”. Serviam o café adoçado com açúcar refinado e os fumantes se regalavam formando a “esquadrilha da fumaça”.”
Foi daí que eu vaticinei e fiz a frase: – Um dia olharemos para o cigarro à mesa, assim como hoje achamos estranho de que a escarradeira já ocupou este lugar!”
Pois então senhores. Hoje não se imagina alguém fumando durante as refeições. Nem na sala de jantar e nem em ambientes fechados públicos. Viajávamos de VARIG e escolhíamos a poltrona pelos lugares fumantes e não fumantes. Quem é desse tempo sabe o que estou falando.
Outros objetos vêm e voltam à mesa. O palito de dentes, por exemplo. Perdeu espaço e não é mais bem-vindo. Já foi, mas ficou brega e hoje ainda frequenta espaços como a boleia de caminhão, o tira gosto depois da pelada dos amigos, digamos, lugares menos formais e mais rústicos. O açúcar branco, perde “status”.
Eu, que ainda estou em processo de domesticação urbana, me atrapalho com aquele enorme guardanapo de tecido na hora do jantar. Confesso: ainda prefiro o guardanapo de papel, mais prático. Já não uso palito de dentes. É uma evolução e tanto, que foi lenta, gradativa e um tanto dolorosa.
Já que acertei em relação a “des-escalação” do cigarro à mesa, me atrevo a prognosticar, vejam que já estou falando difícil, que o próximo objeto, que para meu gosto frequenta todos os locais em demasia, inclusive os momentos das refeições, é o celular.
E faço minha profecia: – O Celular deixará de frequentar à mesa dentro de alguns anos!
Quem sabe voltaremos às boas conversas, regadas a um café sem açúcar.