Um escritor não nasce escritor. Não vem pronto ao mundo. Como qualquer outra habilidade ele aprende e com o tempo se faz escritor. É assim em qualquer atividade, artística, manual, braçal, intelectual, para o bem ou para o mal.
Sempre tem alguém que pergunta: – Mas e de onde vem as ideias para escrever?
Ora as ideias! Todos nós as temos na cabeça. Ideias boas e nem tão boas. Comece a escrever e com o tempo, muita leitura e treinamento tens chances de aprender.
Quando o escritor põe uma ideia no papel, ele expande o assunto. Agrega detalhes e a história melhora, a coisa flui. Em geral a forma de contar, de escrever, é mais importante do que a história em si. O autor tem liberdade para criar, inventar, aumentar e desenvolver o texto. Aí surgem os melhores contos de ficção. Aos poucos, para quem tem, vai adicionando talento e estilo próprio.
Adolescente, quem sabe, espiou as primas no banho de chuveiro e pode ter sido a centelha de Doce paraíso. Mais taludo, saíndo da adolescência, quando tamanho é documento, se é que me faço entender, o mote se dá no ambiente da restinga, perto da ponte que vai pro quartel, onde gringos da serra – Os recrutas da Cavalaria – e nativos ali no Povo Novo, bairro popular do Alegrete, tomavam banho pelados e “apresentavam armas”.
Manilha de espadas, a partir do truco e muitos outros textos, também seguem nesta linha. Faz todo sentido o que escreveu Leon Tolstói: “Se queres ser universal, começa por pintar a tua aldeia.”
“A vida não é a que a gente viveu e sim a que a gente recorda, e como recorda para contá-la.“ Quem diz é nada mais e nada menos que Gabriel García Márquez.
De 1970 para cá, são muitos livros de ficção, crônicas, memorias e ganhou vários prêmios.
Fez muitas traduções marcantes. Sugeriu mudar títulos de contos ao grande escritor uruguaio Mário Arregui. É o caso de Cavalos do amanhecer e Lua de outubro. Ousadia de quem domina o ofício.
Há também textos densos como Noite de matar um homem, Rondas de escárnio e loucura.
Outros mais leves, entre eles: Dançar Tango em Porto Alegre, O chafariz dos turcos, Viva o Alegrete: histórias da fronteira. Estou citando o que eu li.
Tem muita pesquisa. Tiradentes: alguma verdade (ainda que tardia), O processo dos Inconfidentes, O crepúsculo da arrogância – RMS Titanic minuto a minuto.07
Escreveu livros que são verdadeiros manuais e ensinam: O automóvel: prazer em conhecê-lo (c/Hugo Almeida), Snooker: tudo sobre a sinuca (c/Paulo Dirceu Dias).
Organizou a Antologia de contistas bissextos, uma bela obra.
O destaque, para mim, é o livro de memória Lágrimas na chuva: uma aventura na URSS, Porto Alegre: L&PM, 2002, a partir de um acontecimento real e impactante na vida de Faraco.
Para escrever este livro, Faraco usou um estratagema. Combinou com um amigo, dono de jornal em São Luiz Gonzaga, escrever capítulos semanais e publicá-los. E assim fez. Mantinha, portanto, uma espécie de compromisso de enviar a lauda semanal antes da ”dead line”.
A obra mais recente de Faraco é “Digno é o cordeiro”, “Reproduz as dificuldades que tive em 1965, após ter voltado da Rússia”, …
É assim um escritor de carne e osso. Ele vai se construindo. Ele vai se alimentando de textos.
O que faz um cozinheiro: – Cozinha. Um agricultor? – Cultiva a roça. Um pintor? – Pinta.
Faraco, você não vive sem escrever. Seus amigos e leitores aguardam seus livros. Não pare de escrever, por favor!
Afinal, como vive e o que faz um escritor? – Escreve!